Esta talvez tenha sido uma das minhas maiores loucuras em viagem e da minha vida também. Quando estava em Erasmus queria imenso ter uma experiência de andar à boleia, também conhecido internacionalmente por hitchhiking, até porque muitos dos meus colegas já tinham experimentado fazê-lo indo de Tartu até Riga (cerca de 244km).
Assim, a oportunidade surgiu quando tínhamos que ir até ao aeroporto de Riga para apanhar um voo para a Islândia e por isso conter ao máximo todos os custos de viagem dado estarmos a viajar para um dos países mais caros da Europa.
Apesar de nos parecer uma ideia genial para poupar o dinheiro do autocarro para o aeroporto, claramente que não foi das melhores decisões dado o risco de não apanharmos o avião a tempo.
Saímos de casa logo pela manhã, por volta das 7h30 e fomos para a zona de saída da cidade onde tínhamos mais possibilidades de apanhar pessoas que fossem para Riga ou nessa mesma direção. Tínhamos um cartaz suficientemente grande para as pessoas perceberem o sítio para onde queríamos ir, no entanto as letras estavam mal contornadas e pouco se notavam ao longe. Demoramos algum tempo a perceber esse facto e recebemos muitos nãos no entretanto até que por volta das 9h30 apanhamos a nossa primeira boleia.
O condutor era polícia, e por isso tivemos logo a certeza que estávamos em segurança e levou-nos até à fronteira entre a Estónia e a Letónia o que representava mais de um terço do nosso percurso.
Foi a partir daí que as coisas se começaram a complicar... o tempo passava, o frio e os nãos aumentavam e a esperança de apanharmos o avião a tempo começava a angustiar-nos, por incrível que pareça até começou a nevar e nem isso fez com que as pessoas que passavam tivessem um pouco de compaixão por nós e nos oferecessem ajuda.
Decidimos que não podíamos ficar mais na berma da estrada à espera que alguém nos desse uma boleia direta até ao aeroporto e mudamos os nossos planos, tínhamos de apanhar um autocarro até Riga que nos desse a certeza que íamos chegar ao aeroporto a tempo.
Apesar de termos todos os nossos planos B e C pensados caso ficássemos sem boleia tais como a possibilidade de apanharmos comboio ou autocarro em qualquer sítio do caminho em que ficássemos, esquecemo-nos de equacionar uma hipótese: iriamos necessitar de um táxi que nos levasse à estação a partir do sítio onde nos tinham deixado.
No sítio onde estávamos, a meia hora a pé da central de camionagem mais próxima e a 15 minutos do último autocarro para Riga partir não operavam companhias como a Bolt ou a Cabify e não tínhamos o número de nenhum táxi nem conseguíamos encontrar na internet.
Acabamos por suplicar boleias a TODA a gente que estava no supermercado ao lado do sítio onde nos tinham deixado e lá conseguimos chegar a tempo do autocarro para Riga e consequentemente apanhar o voo para a Islândia.
Acabou por tudo correr bem, tiramos imensas aprendizagens desta experiência e ficamos com uma vontade enorme de voltar a andar à boleia mas tendo em conta as seguintes questões:
- perceber se o país em que estamos existe a cultura de dar boleia a desconhecidos;
- ver as condições climatéricas de todo o percurso, não é nada agradável pedir boleia enquanto está frio, chuva e/ou neve;
- escolher um sítio estratégico para começar, com saídas fáceis para o nosso destino final;
- ter um cartaz grande para escrever o nosso destino;
- escrever o nosso destino com letras bem gordas e preenchidas de modo a que seja fácil de se ver a mais de 100m;
Por último, a dica que parece mais óbvia mas que às vezes com a sede de aventura nos passa ao lado: façam hitchhiking mas NUNCA quando tiverem um voo para apanhar.
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