Desde muito cedo que comecei a ouvir falar sobre o conceito do couchsurfing, em que pessoas com corações enormes disponibilizam gratuitamente o seu sofá, ou algum lugar da sua casa para viajantes desconhecidos ficarem.
Aventureira como sou, sempre me agradou esta ideia e sempre tive imensa vontade de experimentar.
Na primeira vez que fiz couchsurfing, ainda tinha 17 anos e confesso que foi um bocado aldrabado. Na altura éramos quatro miúdas que precisavam de uma casa para ficar em Amesterdão e acabamos por ficar na sala de um rapaz que já tinha dado casa à irmã de uma de nós. Assim sendo, apesar de não conhecermos diretamente o nosso anfitrião, sabíamos que era uma pessoa de confiança e que não iriamos ter qualquer problema na nossa estadia.
A sala onde ficamos tinha espaço para nós as quatro e estávamos completamente à vontade, o único problema era a casa ser nos subúrbios da cidade e por isso tínhamos que fazer viagens de comboio diárias para poder visitar o centro.
Anos mais tarde, acabei por recorrer novamente a esse anfitrião quando decidi voltar a Amesterdão.
Prometo que um dia faço um post sobre esta cidade que tanto me fascina.
Desta vez, a nova casa ficava bem no centro o que nos facilitava imenso a vida e nos permitia ir almoçar e jantar a casa com mais frequência e consequentemente gastar menos dinheiro não só em transportes como em alimentação.
Se já tinha boa impressão do nosso anfitrião, fiquei com ainda melhor - fomos super bem tratadas, tivemos direito a uma chave suplente para poder entrar e sair de casa quando quiséssemos e ainda nos ofereceu umas quantas refeições que em vez de encomendar apenas para ele, encomendou para os três.
Depois desta experiência, surgiu a oportunidade de ir à Islândia (podem ler mais sobre essa viagem aqui). Dado que este é um país cujo o alojamento é proporcional ao nível de vida do país, ou seja, extremamente caro, não encontramos opções de estadia abaixo dos 50 euros por noite, o que se tornava completamente incomportável para nós.
Assim sendo, decidimos explorar a plataforma do couchsurfing e procurar anfitriões que nos pudessem alojar durante a nossa viagem daí que os pontos abaixo sejam dicas sobre aquilo que aprendi nesta altura.
Em primeiro lugar, é importante referir que esta é uma plataforma em que a maioria das pessoas e os verdadeiros couchsurfers têm o coração aberto para conhecer e receber outras pessoas e culturas por isso qualquer tipo de discriminação, ofensa ou simplesmente maldade são altamente recriminadas na plataforma. Acima de tudo esta é uma plataforma de PARTILHA. No entanto, como tudo na vida, existem sempre riscos e por isso é óbvio que é possível encontrar gente maldosa nesta rede social.
Para evitar problemas quando estamos a pedir ou a oferecer estadia a alguém é muito importante perdermos algum tempo a analisar o perfil das pessoas e as suas referências - é óbvio que um novato no couchsurfing não vai ter muitas referências (eu própria ainda só tenho uma). No entanto, aquilo que escrevemos no nosso perfil diz muito sobre nós e sobre a nossa filosofia de vida daí que devamos ser o mais honestos e transparentes possíveis naquilo que escrevemos para evitar expectativas defraudadas e para as pessoas sentirem que somos de confiança, mesmo não tendo ainda nenhuma referência.
Neste sentido, é fulcral que o nosso perfil esteja o mais completo e fidedigno possível, caso contrário passamos a imagem de que não queremos saber assim tanto do couchsurfing e portanto a probabilidade das pessoas quererem interagir conosco reduz significativamente.
Não é obrigatório pagar a taxa de verificação (o meu não está verificado), apenas perder algum tempo a trabalhar no nosso perfil. É isto que de certa forma acaba por me distinguir daqueles que eu chamo de "verdadeiros couchsurfers", ou seja, pessoas com o perfil verificado e que já têm imensas referências por já terem usado a plataforma inúmeras vezes.
Outra questão a ter em conta é a frequência no couchsurfing das pessoas que estamos a contactar. A probabilidade de arranjarmos um anfitrião que tenha estado no couchsurfing há horas é maior do que alguém que tenha estado pela última vez na plataforma há meses.
Tudo isto conseguimos perceber com uma primeira olhadela no perfil da outra pessoa.
Quanto à nossa estadia, não podia ter sido mais incrível. A casa era mesmo na capital, Reiquiavique, e mal lá chegamos, conhecemos o colega de casa do nosso anfitrião que nos tinha preparado uma pizza veggie para o jantar. Tivemos direito a um quarto só para nós os quatro onde havia uma cama de casal e dois colchões no chão. Esse quarto era somente usado para o couchsurfing, dada a frequência com que o nosso anfitrião recebia pessoas.
Nessa primeira noite acabamos por ficar até altas horas a falar sobre culturas e a jogar um jogo de cartas australiano que outro couchsurfer tinha ensinado ao nosso anfitrião e ele consequentemente nos tinha ensinado a nós.
Depois de duas noites passadas nessa casa mudámo-nos para uma casa mais no sul da ilha que o nosso anfitrião arranjou pois tinha outro pedido de estadia para a nossa última noite. E foi aí que nos saiu a sorte grande! Em primeiro lugar porque a casa não era dele mas sim do sindicato de trabalhadores ao qual ele pertencia e o facto de pagar uma certa anuidade fazia com que o nosso anfitrião tivesse direito a usufruir de uma série de casas que estavam à sua disposição x vezes por ano.
Para além disso, como podem imaginar a casa era incrível, tinha três quartos, uma grande vista e um super jacuzzi no terraço (que claramente aproveitamos). Mais do que isso, o nosso anfitrião, que apenas nos conhecia há dois dias levou-nos lá (e pelo caminho ainda nos mostrou alguns sítios a explorar na ilha) e deixou a casa só para nós confiando que íamos cuidar dela como se fosse nossa e sem nunca nos cobrar um único cêntimo, precisamente por estes ideais de partilha que o couchsurfing defende.
Quando abandonamos a casa deixamos tudo tal como a encontramos e voltamos à capital para entregar a chaves ao nosso anfitrião e agradecer por tudo o que tinha feito por nós para depois seguirmos para o aeroporto.
Obviamente que lhe deixamos uma referência incrível para que futuros hóspedes pudessem perceber o quão confiável e amável era esta pessoa. Foi a partir daí que percebi efetivamente que esta plataforma nos permite conhecer pessoas incríveis e partilhar os nossos conhecimentos e cultura com os outros. Passei também a disponibilizar o meu sofá para outros couchsurfers na esperança de algum dia poder tornar a estadia de outros memorável.
Resumindo:
- O couchsurfing é uma plataforma de partilha em que podemos oferecer a nossa casa ou usufruir da casa de outros gratuitamente. Esta plataforma pode servir também somente para conhecer outros viajantes;
- Embora a minha primeira experiência tenha sido um bocado aldrabada, acabou por me dar um primeiro contacto muito ao de leve com esta plataforma e conhecer alguém já com experiência que me ajudou a perceber como funcionava o mundo do couchsurfing;
- Apesar de ser uma plataforma em que tem muita gente com boas intenções, existem riscos associados, daí que devamos ter em atenção certas questões para não enganarmos os outros nem nos deixarmos enganar;
- A análise do perfil das pessoas e as suas referências são essenciais para perceber com que tipo de pessoas é que estamos a lidar e se elas têm de certa forma algo a ver conosco;
- Se temos mesmo interesse em estar nesta plataforma, o nosso perfil deve estar o mais completo e fidedigno possível independentemente de pagarmos ou não a taxa de verificação;
- Para arranjarmos anfitriões para as nossas estadias é importante também ter em conta a regularidade com que as pessoas para quem estamos a enviar pedidos frequentam esta plataforma.
Sempre ouvi dizer que quem não arrisca não petisca. A mim saiu-me a sorte grande, pode ser que um dia também vos saia a vocês!
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