Em setembro de 2019 dei o check num destino que há muito tempo desejava visitar, a Turquia. Acho que o que mais me aliciava desde sempre era o facto de ser um país dividido entre dois continentes e tão marcado pela influência islâmica mas com um forte desejo de se tornar cada vez mais ocidentalizado e próximo dos padrões europeus.
Apesar da minha aventura na Turquia só começar oficialmente em Düzce (uma cidadezinha no interior do país de que nem os turcos ouvem falar) decidimos viajar dois dias mais cedo e tirar um tempinho para conhecer Istambul.
Sabiam que a capital da Turquia não é Istambul mas sim Ankara? Da mesma maneira que a capital da Austrália não é Sidney mas sim Canberra ;)
Quando marcamos a viagem fomos avisadas por diversas pessoas para termos cuidado, nomeadamente pelo facto de sermos raparigas novas e de ser perigoso estarmos sozinhas sem uma presença masculina. Sinceramente, não sei se tive sempre sorte ou não, mas nunca me senti minimamente discriminada por ser mulher enquanto viajava, nem mesmo das vezes em que viajei sozinha, por isso acabamos por relativizar este tipo de avisos.
Outra questão que tivemos que ter em atenção ao reservarmos a viagem foi a questão do visto turístico para entrada na Turquia. Este visto pode ser adquirido online no site https://www.evisa.gov.tr/en/ autenticado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Turco e custa cerca de 20 euros, não necessitando de passaporte.
Aterrámos em Istambul durante a tarde, no aeroporto Sabiha Gökçen e o maior desafio foi, após termos encontrado o autocarro que nos ia levar até à cidade, encontrar o caminho certo até ao nosso hostel. A questão complicou-se nomeadamente por não termos dados móveis (dado que não faz parte da UE), nem apanharmos internet em nenhum lado. Para além disso, poucas eram as pessoas que sabiam falar inglês e nos poderiam dar indicações.
Para terem mais ou menos uma noção, uma das raparigas portuguesas com quem estivemos na viagem ligou os dados móveis sem querer durante 5 minutos e só ao receber notificações das diferentes apps ficou com uma dívida de 80 euros de roaming.
Entramos no metro com algum receio, até porque já tinha escurecido e decidimos perguntar a uma local qual o perigo de andar de metro à noite e ela rapidamente nos tranquilizou dizendo que não havia problema e que o metro era muito seguro.
Metro tip: ao carregarem o cartão que é necessário ter para se fazer viagens tenham em atenção o dinheiro que carregam porque as máquinas não dão troco - na altura carreguei o meu com 20 liras turcas que era mais do que suficiente para todas as viagens que ia precisar de fazer.
Outra questão a ter em atenção é as ligações do metro com o tram, pois ao mudarmos de um para o outro somos obrigados a pagar uma nova viagem.
Acabamos por conseguir chegar ao hostel depois de termos perguntado indicações a mais de cinco pessoas, incluindo dois polícias.
Sem sabermos, o nosso hostel ficava junto a uma praça cheia de restaurantes que conseguíamos avistar do último andar. Esta praça é conhecida por Kunkapi restaurants onde há música ao vivo todas as noites e por isso a festa é garantida. Daí que aconselhe vivamente a marcarem um jantar para um desses restaurantes para terem uma experiência gastronómica, musical e cultural verdadeiramente turca.
Apesar de já estar de noite, depois de nos instalarmos, decidimos ir dar uma volta nas redondezas e comprar alguma coisa para comer. Foi aí que começamos a sentir certos olhares de homens que estavam na rua e que reparavam no nosso ar de turistas e claramente ocidentais.
Mesmo assim, esses olhares não nos incomodaram de todo, não fomos alvo de qualquer tipo de piropo ou toque nem nos sentimos minimamente ameaçadas ao passarmos pelas ruas mais sombrias, contrariamente à imagem que nos tinham passado daquela cidade.
No dia seguinte visitamos o famoso Grand Bazaar onde nos perdemos completamente e passamos uma manhã inteira. Em qualquer pequena lojinha o truque é sempre regatear ao máximo porque com tanta oferta parecida, caso não aceitem o nosso preço podemos sempre tentar na loja ao lado.
Durante a tarde, ao seguirmos para a famosa praça de Sultanamet fomos interpeladas por um senhor que nos queria dar a conhecer o restaurante onde trabalhava. Já nos tinham avisado dessa possibilidade e também que muitos vendedores poderiam fazer falsas promessas de preços em relação aos restaurantes, tendo como objetivo burlarem-nos. Assim, ouvimos o senhor apesar de estarmos cautelosas. Rapidamente o despachamos, levando o menu conosco e dizendo que iriamos voltar mais tarde ao seu restaurante para jantar, o que acabou por não acontecer.
Chegando à Praça de Sultanamet, começamos por visitar a Mesquita Firuz Ağa, no entanto foi apenas na Mesquita Azul que sentimos efetivamente o impacto de sermos mulheres na cultura islâmica até porque tivemos logo que cobrir o cabelo com um lenço e a minha parceira de viagem teve também que cobrir as pernas por estar de calções. Tal podia ter sido evitado dado que já nos tinham avisado de antemão que para visitar as mesquitas sem qualquer problema convém ir tapadas até aos pés e não utilizar camisolas caveadas.
No entanto, nas mesquitas mais visitadas por turistas, como é o caso desta, existem roupas e lenços na entrada à disposição dos visitantes.
Outra questão que tivemos de respeitar foi o facto de não se poder entrar nas mesquitas durante as horas de culto. No caso da Mesquita Azul, por ser um local tão turístico, tinha exposto uma série de regras que deveríamos respeitar e explicações sobre os cultos e simbologia islâmica.
(A primeira foto foi tirada na primeira mesquita, pois não é permitido tirar fotos no interior da Mesquita Azul, daí que só tenha conseguido tirar fotos no exterior dela, como é o caso da segunda foto)
Apesar de estarmos nesta praça, acabamos por não visitar o famoso museu de Hagia Sophia por o tempo ser curto e o preço também ser demasiado para as nossas carteiras (cerca de 20 euros).
O final da tarde foi ocupado com a preocupação de ir para a estação de autocarros, após recolhermos as malas do hostel e comermos qualquer coisa. Acabamos por parar num local de fast food aconselhado por o empregado do hostel chamado Çiğ köfte, onde vendem um prato típico turco, adaptado da Arménia mas versão vegetariana, que estava delicioso (aparentemente existem mais locais destes espalhados pela cidade).
Seguimos de metro até à central de autocarros onde nos preocupamos desde logo em verificar se estávamos no local certo pois Istambul tem três centrais de autocarro às quais lhes dão diferentes nomes. Aí encontrámos o resto do portugueses e começou a nossa viagem até Düzce.
Resumindo:
- Para visitarem a Turquia necessitam de um visto que pode ser adquirido aqui;
- Relativizem os avisos das pessoas que já foram à Turquia e viagem cautelosos mas sempre com o coração aberto à cultura turca e aquilo que esta nos tem para oferecer;
- Tenham informações detalhadas em relação ao local onde se vão alojar pois chegando à Turquia os dados móveis têm altas taxas de roaming e são poucos os sítios que disponibilizam internet;
- O metro é seguro mesmo à noite, tenham apenas cuidado ao carregarem o passe de transporte para não porem mais dinheiro do que aquilo que desejam;
- Sejam cautelosos com os vendedores de rua que vos abordam, mas uma vez mais mantenham-se de coração aberto;
- Respeitem as horas de culto e o tipo de roupa a usar nos locais sagrados, caso não o façam estarão a desrespeitar a outra cultura;
- Caso tenham que apanhar um autocarro em Istambul, certifiquem-se que estão no local certo.
Oxalá (ou Inshallah) possa voltar a esta cidade!
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