Por mais que adore o meu país e haja mil e uma coisas que ainda me faltem explorar nele estava a precisar de ares internacionais, ouvir falar outras línguas e sentir-me longe de casa. Nesse sentido aproveitei que as viagens para o sul de França estavam baratas (cerca de 70 euros ida e volta) e acabei por fazer um roteiro alternativo, organizado por uns amigos, que me mostraram locais menos conhecidos pelos estrangeiros na região de Hérault, onde se situa a famosa cidade de Montpellier.
Em primeiro lugar, a resposta para a questão mais badalada: "como foi em relação ao COVID-19?"
Não foi a primeira vez que viajei de avião pós-confinamento (estive na Madeira há umas semanas atrás - prometo que está quase a sair um post sobre isso aqui no blog) no entanto foi muito mais descomplicado e confesso que um pouco menos seguro.
A França não exige a realização de testes ou quarentena obrigatória aos cidadãos portugueses, daí que apenas tive que me preocupar com o uso de máscara e desinfetar constantemente as mãos durante a viagem.
Tive sorte que nenhum dos voos ia cheio, nomeadamente por Montpellier não ser um destino tão comum e portanto pude praticar o distanciamento social dentro do avião, estando apenas rodeada das pessoas que me estavam a acompanhar na viagem.
Ao chegar ao aeroporto de Montpellier já tínhamos pessoas à nossa espera para sair daquela cidade o mais rápido possível, dado o número de casos ter aumentado naqueles dias. Por isso mesmo, evitamos visitar cidades e acabamos por fazer um roteiro alternativo visitando uma série de aldeias naquela zona de França (sempre de carro).
1º dia:
Como chegamos por volta das 10h a Salasc, a aldeia onde ficamos alojados, tivemos a oportunidade de dar uma volta pelo mercado que se realiza todos os domingos e preparar o piquenique para o nosso primeiro destino.
Após cerca de 50 minutos de viagem chegamos ao Cirque de Navacelles.
Ficamos logo maravilhados ao depararmo-nos com aquele fosso de 300 m de profundidade que para além de ser um dos maiores da Europa é considerado Património Mundial pela UNESCO.
Mal sabíamos que o melhor ainda estava para vir. Descemos até à aldeia que se encontra mesmo no meio do fosso e pudemos banhar-nos nas cascatas do rio Vis.
A maior parte das pessoas ao chegar ao miradouro das cascatas vira à esquerda para se instalar no topo da cascata, no entanto se virarem à direita e percorrerem o caminho de terra conseguem chegar à parte de baixo onde não há praticamente ninguém.
Depois desta tarde ainda passamos pela cidade de Lodève para visitar a sua catedral gótica que estava completamente vazia, considerada monumento histórico nacional desde o século XIX.
(Incluindo a viagem de Montpellier até Salasc realizamos cerca de 150km de carro neste dia)
2º dia
Decidimos ir até Séte, uma das mais importantes cidades portuárias da região, devido ao canal do Midi.
Este canal de comunicação entre o Mediterrâneo e o Atlântico foi mandado construir por Luís XIV e é neste momento considerado o canal mais antigo da Europa, ainda em funcionamento.
No entanto, a cidade estava a abarrotar de pessoas e achamos que era melhor nem sairmos do carro para nossa própria segurança.
Para almoçar, fizemos um piquenique no Mont-Saint Claire que está a cerca de 180m acima do mar e tem vista panorâmica para a cidade.
Depois disso ainda tivemos a oportunidade de ir pôr um pezinho no Mediterrâneo, numa das praias da cidade.
A água não estava tão quente quanto eu achava que ia estar, por isso não tenham grandes expectativas.
No final do dia pegamos em bicicletas e pedalamos desde a aldeia de Salasc até ao Lago do Salagou. Foi aí que me senti completamente privilegiada por estar perante uma paisagem tão diferente de qualquer outra que já tinha visto na vida. Naquela zona a terra é vermelha, de origem vulcânica e dá a sensação que estamos num deserto o que faz com que haja toda uma magia envolvente só de pensar que a natureza foi capaz de produzir um local como aquele.
Sem dúvida que a passagem por este lago e por esta paisagem é obrigatória ao passar por esta zona de França.
(Cerca de 135 km de carro percorridos neste dia)
3ºdia
A primeira paragem foi na aldeia medieval de Saint-Guillém-le-Désert, considerada uma das aldeias mais belas de França. Esta aldeia começou a crescer no século XII devido ao mosteiro beneditino que lá se encontrava, passando também mais tarde a ser um local de passagem para os caminhos de Santiago de Compostela.
A melhor altura para visitar esta aldeia é mesmo durante o verão, pois apesar de durante o inverno podermos igualmente apreciar toda a sua arquitetura, acaba por parecer uma aldeia fantasma pois as lojas de comércio maioritariamente artesanal e de produtos naturais estão fechadas durante essa altura do ano.
Para além da aldeia existe também uma ponte do Diabo onde podem tomar banho e dois trilhos de 10km (cada um de 3h30) que vão até ao topo da montanha onde a aldeia está situada. Infelizmente não houve oportunidade de realizar esses trilhos. No entanto, ficou a promessa de lá voltar novamente.
Acabamos ainda por passar numa adega de vinho para poder provar o vinho típico daquela região, Hérault, onde as estradas são rodeadas de vinhas e de adegas como a que fui.
Para terminar o dia fomos ainda a Villeneuvette que é uma aldeia com uma arquitetura majestosa e imponente também do reinado de Luís XIV dedicada inteiramente à produção de têxteis para o reino, podendo considerar-se uma verdadeira "aldeia de trabalho".
Por termos visitado esta aldeia numa terça feira pudemos dar uma volta pelo mercado de produtos biológicos que se realiza semanalmente entre junho e setembro.
(Cerca de 70km percorridos neste dia)
4º dia
Para terminar a nossa estadia pelo sul de França entre zonas rurais e aldeias históricas, o plano para o último dia resumiu-se a isso mesmo: natureza pela manhã e uma outra aldeia medieval na parte da tarde.
Saímos bem cedo de Salasc para uma viagem de 50 minutos de carro até Gorges d'Héric, que se situa no Parque Natural Regional Haut-Languedoc. O objetivo era ir até às cascatas que se encontram nessa zona e almoçar por lá dado que a partir das 15h fica sombra.
Durante a tarde visitamos Olargues, uma aldeia medieval que também se situa neste Parque Natural e que é também considerada uma das mais belas aldeias da França.
Para além das ruas encantadoras que se foram construindo e reconstruindo ao longo dos séculos, nomeadamente XIII, XV e XVI, existe ainda um antigo castro que foi transformado numa torre para tocar o sino e um museu de artes e tradições populares (com entrada gratuita).
E claro, com uma vista incrível para a montanha!
Terminamos o dia e a nossa estadia (pois embarcamos no dia seguinte de madrugada) com uma última passagem pelo Lago de Salagou e o melhor pôr-do-sol no miradouro da aldeia de Liausson.
(Cerca de 100km percorridos neste dia)
E foi assim entre aldeias e natureza que adaptamos a nossa viagem a França fazendo um roteiro alternativo e andando cerca de 600 km de carro (incluido as viagens de ida e volta para Montpellier) não só para evitar ao máximo zonas com surtos de COVID como também para dar oportunidade de conhecer zonas menos turísticas de um país que tem tanta história e tanta diversidade de paisagens e locais para visitar.
Não sei se conseguiram ficar tão fascinados quanto eu com este roteiro. No entanto, sem dúvida, existem locais que são imperdíveis e que vale muito a pena dar a oportunidade para os visitar.
Resumindo:
- Neste momento a França não está a fazer controlo de testes à COVID-19 aos portugueses que queiram visitar o país;
- Para realizar este roteiro alternativo convém alugar um carro e estar pronto para fazer vários km por dia (dado a França ser enorme, as distâncias acabam por ser muito relativas);
- O melhor aeroporto para voar e visitar esta zona é Montpellier (que também é uma cidade que vale a pena visitar mas não nestes tempos de pandemia);
- Vale a pena alugarem uma casa ou alojamento local numa aldeia como Salasc pois existem imensas aldeias espalhadas por França como esta;
- Aldeias: Salasc, Saint-Guilhem-le-Désert, Villeneuvette, Olargues e Liausson;
- Locais na natureza: Cirque de Navacelles, Lago do Salagou e Gorges d'Hérric;
- Para além dos mergulhos nas cascatas e no incrível Lago do Salagou não podemos esquecer a ida ao mar Mediterrâneo numa das praias de Sète;
E agora, que começamos aos poucos a regressar à normalidade mal posso esperar pela próxima viagem, mas sempre em segurança!
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